Avianca deixa sem hotel passageiros com voos atrasados em Guarulhos
A Avianca tem deixado de oferecer hospedagem a passageiros que sofrem atrasos ou têm os voos postergados por mais de quatro horas, como determina a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
O problema ocorreu, por exemplo, conforme presenciado pela reportagem, com ao menos 15 pessoas que tinham passagem comprada para o voo 6316 que partiu no domingo (21) de Guarulhos para Recife.
Eles não puderam embarcar porque, segundo funcionários da Avianca, a empresa precisou realocar passageiros de um voo anterior que havia sido cancelado. Tiveram de esperar até a manhã desta segunda-feira (22) para voar.
"Nosso voo não estava na lista de cancelamentos. Fomos fazer o check-in no aeroporto e disseram que o avião estava lotado. Não tive oferta para reembolso no guichê", disse o autônomo Pedro José da Silva.
"Não nos ofereceram nada além da alimentação. Sem transporte e sem hotel", afirma o empresário José Soares.
Ao menos em um caso, a empresa também ofereceu reembolso inferior ao valor pago pelo passageiro após o cancelamento de um voo, medida irregular.
Um passageiro que não quis se identificar teve seu voo de Guarulhos a Curitiba cancelado no dia 17. Ao pedir o reembolso da passagem, pelo site da Avianca, conseguiu reaver R$ 63 dos R$ 464 pagos.
Para não perder a viagem, ele comprou uma passagem de última hora em outra companhia aérea e cancelou sua volta pela Avianca, marcada originalmente para a noite desta segunda-feira.
Procurada, a Avianca Brasil não quis comentar os casos.
A empresa iniciou nesta segunda-feira o cronograma de entrega de 18 aeronaves a quatro empresas de leasing que venceram ações judiciais para a retomada dos equipamentos por inadimplência.
Serão entregues sete aviões à GE Capital Aviation Services, um à PK, quatro à Vermillion e seis à Aviation Capital Group. A Anac vai supervisionar a devolução.
Os atrasos dos pagamentos se arrastam desde o segundo semestre de 2018, segundo pessoas familiarizadas com a situação financeira da marca. O valor devido às arrendadoras supera R$ 1 bilhão.
O cronograma não inclui a devolução de motores pertencentes às arrendadoras Engine e Sumisho. Ambas obtiveram mandados de reintegração de posse de seus equipamentos.
CADE
O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) instaurou no dia 18 um procedimento preparatório de inquérito administrativo para acompanhar a venda dos ativos da Avianca. O leilão será em 7 de maio.
O plano de recuperação da empresa aérea determina que seus ativos sejam fatiados em sete UPIs (unidades produtivas isoladas, que não incluem dívidas).
A proposta aprovada pelos credores foi elaborada pelo fundo Elliott, maior credor da Avianca, em conjunto com Gol e Latam.
As duas companhias concorrentes se comprometeram a fazer propostas de ao menos US$ 70 milhões (R$ 275,5 milhões no câmbio atual) por ao menos uma das UPIs.
Para o Cade, como Gol e Latam já têm participações de mercado elevadas nas rotas em que a Avianca atua, a aquisição dos ativos por elas traria "as preocupações concorrenciais mais elevadas".
Em ofício à Anac também no dia 18, o superintendente-geral do órgão, Alexandre Cordeiro, fala em "efeitos extremamente deletérios ao ambiente concorrencial" se a distribuição dos slots (autorizações de pousos e decolagens) se der entre outras aéreas do mercado.
A Azul anunciou que desistiria da oferta pela compra de parte da Avianca na quinta-feira (18).