Sindicato dos Aeroviários no Estado de São Paulo
Sábado, 21 de Setembro de 2024

A 2 anos da Copa, obras em aeroportos ainda não decolam

03/10/2012

 

Ao defender a realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil, o governo sempre argumenta que o evento oferece ao país a oportunidade de melhorar sua infraestrutura, em especial num dos pontos em que os investimentos são mais urgentes: o sistema aeroportuário. Até agora, porém, a prometida reformulação da área - considerada essencial para o crescimento sustentável da economia brasileira - pode ser classificada como um fiasco. De acordo com um levantamento da ONG Contas Abertas , o ano de 2012, que seria decisivo para modernizar os aeroportos do país antes da Copa, foi de pouquíssimos avanços até agora. O estudo, divulgado nesta sexta-feira, mostra que a Infraero ainda não conseguiu acelerar os investimentos autorizados para 2012 - de um total de 2 bilhões de reais, apenas 591,5 milhões (ou 29,4% do total) foram aplicados nos oito primeiros meses do ano. Caso a execução dos investimentos fosse regular no decorrer de todo o ano, cerca de 1,3 bilhão de reais já deveria ter saído dos cofres da estatal, que promete acelerar as obras nos próximos meses.
 
A Infraero afirma que as condições climáticas atrapalharam as obras e dificuldades no processo de contratação atrasaram os trabalhos. "Em decorrência desses fatores, as obras da Infraero apresentam maior índice de execução no segundo semestre", diz comunicado da estatal. "Em 2011, 70% dos investimentos realizados pela empresa foram executados nesse período. A expectativa da Infraero é executar entre 85% e 90% dos investimentos previstos para 2012." Ainda que o ritmo das obras melhore, o gasto do governo no setor já terá perdido uma de suas metas: receber melhor os visitantes esperados para a Copa das Confederações, que acontece já no ano que vem. Do total de 1,2 bilhão de reais previsto pela Infraero para as obras de ampliação, reforma, adequação e construção de aeroportos nas cidades-sede da Copa de 2014, só 365,1 milhões - o correspondente a 30,3% do total -, foram aplicados entre janeiro e agosto de 2012. Em sete das quinze ações previstas para esses aeroportos, menos de 15% dos recursos previstos foram realmente investidos.
 
Entre as obras estão, por exemplo, a reforma e a ampliação do terminal de passageiros e do sistema de pistas e pátios do Aeroporto Santos Dumont e a adequação do Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro. A cidade será palco da decisão da Copa das Confederações, em 30 de junho de 2013. Estão incluídas ainda as obras de adequação dos aeroportos de Confins, Brasília, Cuiabá e Salvador. A obra que deve receber o maior montante de recursos é a de adequação do Aeroporto de Guarulhos: 270,5 milhões de reais, dos quais apenas 144,8 milhões foram aplicados. Outra ação, a de reforma e adequação do Terminal de Passageiros 1 do Aeroporto Eduardo Gomes, em Manaus, teve 63,5% dos 131,8 milhões de reais previstos para 2012 aplicados até agora. Os dados são do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Apesar do abismo entre investimentos prometidos e gastos de fato realizados, a Infraero assegura que os trabalhos tem sido executados de acordo com o planejado (na galeria de fotos acima, imagens divulgadas pela estatal no seu último balanço de obras, há um mês).
 
'Pressão' - Na segunda-feira, a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) fez um alerta ao Brasil ao comentar os preparativos para a Copa de 2014. De acordo com o órgão, em razão dos atrasos nas obras de aeroportos, a ampliação de terminais corre o risco de custar "horrivelmente caro" ao país. A afirmação foi feita pelo diretor executivo da Iata, Tony Tyler. Ele chamou a atenção para o fato de as reformas e ampliações em aeroportos serem "absolutamente necessárias" para que o Brasil possa receber torcedores e turistas durante o Mundial. Mas, faltando menos de dois anos para o evento, não é mais possível esconder a preocupação em relação às obras. "Ainda há tempo para realizar as ampliações necessárias. Isso é possível, como vimos na Índia, onde reformas desse porte foram feitas em 36 meses. Mas o problema é que podem custar horrivelmente caro", disse Tyler. "Os aeroportos brasileiros estão sob enorme pressão", avisou. O executivo ainda criticou o modelo de licitação lançado pelo governo para a concessão dos aeroportos. Para ele, os valores pagos na primeira rodada de vendas resultará em aumento de preços nas passagens e prejuízos ao consumidor.