Sindicato dos Aeroviários no Estado de São Paulo
Terça, 08 de Outubro de 2024

Viagem de avião: Atlético e Cruzeiro gastam, no ar, tempos compatíveis aos jogos da temporada

05/12/2016

O ‘holandês-(não)voador’ Dennis Bergkamp teve que ser ‘dopado’ para conseguir cruzar o Oceano Atlântico de avião e disputar a Copa de 1994, nos Estados Unidos. Paolo Guerrero, na época do Corinthians, já foi flagrado ‘amarrado’ em uma poltrona para ter condições de decolar. O boliviano Raúl Gutiérrez aposentou aos 32 anos para não ter mais que escutar o barulho das turbinas. O tricampeão Gérson e o ex-ponta-esquerda do São Paulo, Canhoteiro, eram outros que compartilhavam a mesma fobia.

Os obrigatórios deslocamentos aéreos no futebol, que teve o capítulo mais trágico na última terça-feira, com a queda do avião da Chapecoense, causam medo em alguns, pavor em outros, mas são tão ou mais presentes no cotidiano dos jogadores profissionais do que a própria prática de entrar em campo para suar a camisa e balançar as redes adversárias.

Os atletas do Atlético, por exemplo, finalizarão 2016 com mais tempo furando o branco das nuvens do que pisando no verde dos gramados dos estádios. O Galo fará mais quatro horas e meia de viagem para ir e voltar de Porto Alegre, quando encara o Grêmio na final da Copa do Brasil. No total, o alvinegra acumulará mais de 143 horas de voo, sendo que passou 112 horas em campo nos 75 jogos realizará em 2016.

A Raposa, que disputará nove partidas a menos que o rival, ficou mais tempo em campo, mas numa curta distância em relação ao período em que passou de asas abertas. O time celeste tem um “cartão de milhas” com 91 horas de voo acumuladas, contra 99 horas nos 66 jogos que disputará, sendo os últimos 90 minutos desta contagem no duelo derradeiro contra o Corinthians.

Assim, a logística das viagens, seja em aviões fretados ou de carreira, vira uma responsabilidade tão importante quanto a escolha do esquema tático certo para vencer os adversários. A função de planejar os voos, no Atlético, é de Carlos Alberto Isidoro. No Cruzeiro, esta missão está nas mãos de Benecy Queiroz, funcionário com mais de 45 anos de clube.

Isidoro, que ocupa o cargo de supervisor técnico do Galo desde 1999, esclarece a preocupação constante de amenizar os efeitos das viagens para os jogadores e demais integrantes das delegações: tempo de voo, conforto e, é claro, a segurança. 

“Sempre buscamos organizar os voos com antecedência de 30, 15 dias. Tentamos minimizar os efeitos das viagens mais longas e, quando vamos a cidades mais distantes, embarcamos com dois dias de antecedência. Carregamos a responsabilidade de lidar com a segurança de seres humanos que são pais e filhos e também ídolos de muita gente”, disse Carlos Alberto, ao Hoje em Dia, acrescentando que o ex-lateral Paulo (César) Baier, o ídolo Guilherme Alves e o vitimado ex-treinador do Atlético e comentarista Mário Sérgio também queriam distância de aeroportos.

O supervisor administrativo Benecy Queiroz explica o rigor que existe nos órgãos de aviação brasileira, lembrando que as equipes do Brasileirão fazem os traslados com as companhias aéreas pré-determinada: Gol e Azul.

“No Brasil, a Agência Nacional de Aviação Civil é uma organização séria, exige os planos de voo, fiscaliza todo o processo que envolve viagens aéreas. Se a companhia não apresenta todos os requisitos exigidos, não trabalha. No Brasil as empresas credenciadas para viagens oficiais dos clubes são a Gol e a Azul, e as partes envolvidas no futebol passam muito tempo dentro de aeronaves, às vezes mais tempo do que em partidas. Portanto, é imprescindível que se trabalhe com segurança”, disse Benecy, à reportagem.

LONGAS VIAGENS

O Atlético se preparará para disputar pelo segundo ano consecutivo a Florida Cup. E a viagem mais longa do Galo no ano foi justamente para disputar o torneio nos Estados Unidos. De Belo Horizonte a Fort Lauderdale, com conexão em Campinas, o Galo levou quase 20h para ir e voltar da, agora, terra de Donald Trump.

Na Libertadores, novamente longos trechos pelo caminho. O primeiro confronto fora diante do Melgar, do Peru. Escala na capital Lima e novo voo para Arequipa: cerca de 12 horas de ida e volta.

No caso do Cruzeiro, os jogadores tiveram o maior desafio nas alturas quando o time enfrentou o Campinense, pela Copa do Brasil. 10h de voo (ida e volta) entre BH e João Pessoa.