Sindicato dos Aeroviários no Estado de São Paulo
Segunda, 07 de Outubro de 2024

Gol planeja investir no segmento corporativo

17/10/2016

Presidente da Gol, Paulo Kakinoff, diz que aérea assumiu liderança no mercado carioca e planeja investir mais no segmento corporativo,

com salas vip e programa de milhagem para empresas. Executivo afirma que dívida ainda é alta, mas que investidor mantém confiança

A Gol já foi a empresa de baixo custo e da barrinha de cereal. Quando o senhor assumiu, o foco passou a ser o mercado corporativo. É o caminho?

O objetivo é criar uma companhia de menor custo e melhor tarifa. Temos tarifas de R$ 59, R$ 99 para o passageiro sensível a preço. Mas queremos continuar a conquista do mercado corporativo. Há dois anos lideramos a venda de bilhetes para esse mercado. Nosso desejo é expandir isso. Daí os investimentos em produtos e serviços, como Wi-Fi. A Gol também lidera a pontualidade no mercado brasileiro há três anos.

O que será feito para atrair esse perfil de passageiro?

Vamos instalar bancos de couro em toda a frota a partir da virada do ano e investir em salas vip. Haverá duas no Galeão. A primeira será inaugurada em novembro. Mês que vem vamos lançar um programa de fidelidade para pequenas e médias empresas. Será uma espécie de Smiles para empresas. Estará associado ao volume de compra.

Por que investir no Galeão, num momento de crise fiscal no estado e no setor de petróleo?

É uma crise, mas o petróleo está lá e vai continuar. A Petrobras voltará a seus dias de glória, e a Gol não vai esperar isso acontecer. Estamos nos antecipando. Acreditamos no Rio, é uma visão estratégica da companhia. Colocamos no Rio de Janeiro um serviço de conexões ligando os passageiros do Rio ao mundo todo, com nossas parcerias, que será merecedor da preferência dos cariocas. Desde maio, 52% dos assentos em aviões que saem ou chegam ao Rio são da Gol. São 1.500 frequências semanais. É a hora de montar a malha, porque muita gente saiu. Conectamos as regiões Sul com Norte passando pelo Rio e por São Paulo. Para o passageiro, não faz diferença se vai fazer escala no Rio ou em São Paulo. Teremos novos destinos a partir do Rio na alta temporada, que podem ficar (Ilhéus, Mendoza, Porto Seguro e Santiago do Chile, saindo do Galeão, e Foz do Iguaçu, Porto Seguro e Florianópolis, do Santos Dumont).

A Gol cortou 8% da oferta de voos no primeiro semestre. Haverá mais cortes?

Não há nada neste sentido no momento. Se houver, será para o próximo.

O que espera do cenário econômico?

Trabalhamos com o dado oficial de 1,5% de crescimento do PIB em 2017. É possível que haja recuperação do setor aéreo.

E quanto à sinalização política?

A agenda está evoluindo, como a aprovação do teto de gastos. É fundamental estabelecer limite para as despesas, ter uma discussão sobre o tamanho da máquina pública, um nível de responsabilidade fiscal alto. A solução para a economia passa forçosamente por essa agenda. A votação da PEC (do teto dos gastos) é um passo concreto na viabilização do que todo mundo quer: a retomada do crescimento.

Há alguns meses, especialistas avaliavam que a Gol poderia entrar em recuperação judicial. A reestruturação da dívida acabou?

Entre as diversas frentes de reestruturação, uma delas ainda apresenta oportunidade e necessidade de trabalho, que é o nível de endividamento total. A dívida ainda é alta (a dívida bruta ajustada era de R$ 15,7 bilhões no fim do segundo trimestre). A companhia continua olhando, pesquisando e analisando oportunidades de redução da dívida.

Quer reduzir a dívida para quanto?

Não falamos em valores, projetamos alavancagem (razão entre dívida líquida e geração de caixa) na faixa de 6 até o fim do ano. No fim do ano passado estava em 11.

A dívida está nas mãos de quem?

Cerca de R$ 1 bilhão com bancos brasileiros. Cerca de R$ 4 bilhões estão com investidores. Há ainda financiamento de aeronaves.

As agências de classificação de risco avaliam os papéis da Gol como junk (lixo, que tem risco de calote). Como conquistar o investidor de novo?

Tem que perguntar para ele. As ações da Gol subiram 500% este ano (considerando o menor patamar histórico, em 22 de janeiro, de R$ 1,16, e a cotação de sexta-feira, de R$ 7,27).

Mas tinham caído muito em 2015.

O Ibovespa caiu. Qual a ação no Brasil que não caiu?

Então a reação do investidor está mais ligada ao país?

É uma combinação de tudo. Por dever, não comentamos variação de preço de ação. Não acredito que exista uma crise de confiança. Não acredito que o investidor tenha perdido a confiança na empresa. A confiança se dá justamente pelos números de desempenho que a Gol tem apresentado. A receita no primeiro semestre de 2016 foi similar à do primeiro semestre de 2015, num momento de PIB negativo e queda de 10% na demanda no setor aéreo.

Em 2012, quando o senhor assumiu, disse que não havia planos de vender a companhia. Isso mudou?

Particularmente acredito que haverá um movimento de fusões e aquisições na América do Sul, mas não é do meu conhecimento que algo esteja acontecendo ou sendo discutido neste momento.

Não há objetivo de se juntar a alguém? Comprando ou vendendo?

Vou me ater às palavras da sua pergunta. É um objetivo? Não. Pode acontecer? Pode. Mas não há nada na agenda no momento.

A Delta poderia consolidar esse movimento na América do Sul?

Não há agenda nesse sentido. A própria Delta tem dito que não tem planos de aumentar participação na empresa (a Delta tem 9,48% de participação na Gol).

Há espaço para quatro empresas aéreas no Brasil? Haverá consolidação?

Também. O Brasil é o quinto maior mercado doméstico de aviação do mundo. Os três principais competidores (aqui) têm participação em torno de 85% a 87%. É muito raro encontrar nos dez maiores mercados um nível de distribuição como esse.

Esse movimento depende da liberação de 100% de capital estrangeiro nas companhias aéreas?

É um caminho independente. Há estruturas de capital nas companhias que já permitem participação de capital estrangeiro. A Gol defende a liberação de 100% por coerência com a trajetória da empresa. Sempre defendemos o livre acesso ao capital.