Sindicato dos Aeroviários no Estado de São Paulo
Sábado, 05 de Outubro de 2024

América Latina entra na rota do turismo mundial

17/12/2015

Por Amanda Bourlier*

O ano de 2015 foi importante para consolidar a imagem da América Latina como um destino turístico. No ano anterior, o Brasil já havia sido beneficiado por sediar com sucesso uma Copa do Mundo, ao mesmo tempo em que os consumidores eram expostos a mensagens de que a “Colômbia é um Realismo Mágico”, o México é “The Place You Thought You Knew” (O lugar que você pensava que conhecia), e que “All You Need is Ecuador” (Tudo o que você precisa é o Equador). Com a América Latina na mente dos consumidores como um destino turístico, a recuperação econômica nos mercados desenvolvidos e com uma infraestrutura turística melhor do que nunca, a região parece pronta para receber os turistas internacionais em 2016.

Os fatores econômicos e os investimentos já realizados por muitos países em seu potencial turístico devem ser os grandes impulsionadores da indústria na região em 2016, uma vez que invertem a direção do fluxo turístico, polarizam o mercado e dão aos destinos secundários uma chance de brilhar.

Taxa de câmbio

Para diversos países na América Latina, o ano de 2015 foi de desafios econômicos. Um dos principais fatores de impacto é a taxa de câmbio mais fraca, que é particularmente problemática para as viagens internacionais partindo dos países da América Latina. Por conta disso, o ano de 2016 deverá ser de baixo crescimento no fluxo de viagens para fora dos países da região e de retração em alguns casos, conforme as viagens internacionais, especialmente para os Estados Unidos e a Europa Ocidental, se tornam caras demais para muitos consumidores.

Como resultado, a atenção do setor deve se voltar mais fortemente ao turismo doméstico e de entrada no país, que também deverá ser impactado pelas condições econômicas. Aqueles que desejariam viajar para fora do país devem, ao contrário, optar por viagens nacionais visando atenuar os efeitos das taxas de câmbio em suas compras. Além disso, diante da incerteza econômica e, em alguns países, de índices de inflação acima das metas dos governos, os viajantes domésticos devem se tornar especialmente sensíveis aos preços. Ou seja, podemos esperar um crescimento mais lento e uma migração para serviços de menor custo também nas viagens domésticas.

Polarização da demanda

Os fluxos turísticos de entrada nos países, por sua vez, serão o ponto alto no setor. Mais uma vez, um megaevento (Jogos Olímpicos Rio 2016) vai atrair a atenção mundial não apenas para o Brasil como também para toda a América Latina. Os visitantes dos Estados Unidos e da Europa, em particular, serão beneficiados pelo câmbio, fazendo com que região se torne um destino ainda mais atraente para os turistas internacionais.

Desta forma, as empresas de viagem devem ter mais sucesso nos espectros econômicos e de alto padrão em 2016. A região já viu uma explosão dos voos low-cost, bastante populares entre os turistas locais e que vêm expandindo suas rotas para destinos internacionais. Há oportunidades também para em- presas voltadas para o turismo de negócios ou de luxo, uma vez que esses consumidores priorizam conveniência e qualidade na experiência de viagem ao preço. Por outro lado, as empresas de todas as categorias que estiverem no meio deste espectro terão que inovar para se sobressair.

Um exemplo de diferenciação pode ser o ganho em escala, uma iniciativa importante à medida que o poder de negociação com os fornecedores puder ser usado para assegurar preços mais baixos e ganho de clientes. Marcas globais como Expedia ou regionais como a Decolar já possuem vantagem de escala. Players domésticos que não buscam consolidação em seu espaço podem usar o conhecimento dos mercados locais para posicionar seus produtos de forma mais precisa.

Outra opção é o desenvolvimento de técnicas para fazer a viagem mais conveniente e customizada, como a disponibilização de plataformas online e mobile, o engajamento por meio de redes sociais e a maior oferta de opções, como a separação de serviços que muitas companhias aéreas, como a mexicana Volares e a Avianca, implementaram.

Oportunidades para destinos de segunda linha

Apesar da situação econômica, diversos países na região fizeram investimentos pesados em infraestrutura recentemente, como parte de planos sofisticados para o turismo nacional. Entre os exemplos de investimento estão o Aeroporto Internacional Mariscal Sucre em Quito; o plano de abertura de 60 unidades de hotéis da rede Marriot na América Latina e Caribe até 2018; e ainda a expansão de rotas entre os continentes por parte das companhias aéreas como Copa e VivaColombia. Essas iniciativas impulsionaram as conexões aéreas e por terra, aumentando a qualidade das instalações turísticas e, em alguns casos, o ambiente de negócios como um todo. Nunca foi tão fácil viajar na América Latina.

Embora essas iniciativas beneficiem pontos turísticos tradicionais como Ipanema, Riviera Maia e Machu Picchu, o foco de muitos desses investimentos foi apresentar aos visitantes atrações, cidades e países fora da rota tradicional. A estratégia do Equador, uma prioridade nacional desde 2013, trabalha para levar turistas para fora da capital, reforçando suas áreas geográficas singulares, desde Galapagos até a Amazônia. O Brasil espalhou as atividades da Copa do Mundo por cidades em todo o país, criando uma malha aérea capaz de conectar lugares que estão fora da tradicional rota turística. Também o México, possivelmente o país que melhor ilustra o sucesso desta estratégia, trabalhou fortemente nos últimos anos para que sua indústria turística passasse a oferecer mais do que apenas resorts all-inclusive na praia.

Existe um claro potencial de turismo em 2016, mas as condições econômicas serão determinantes para que essas oportunidades se convertam em realidade. As empresas e os destinos que conseguirem se diferenciar em preço, conveniência e singularidade da experiência de viagem terão melhores chances de capturar o potencial de 2016.