Sindicato dos Aeroviários no Estado de São Paulo
Quinta, 26 de dezembro de 2024

Infraero determina corte de 15% dos custos

24/08/2012

 

A Infraero, estatal que administra mais de 60 aeroportos no país, está apertando os cintos. A determinação da diretoria financeira é que sejam cortados 15% do custeio, especialmente nos novos contratos com fornecedores. Segundo uma fonte que teve acesso ao documento com a recomendação, a medida visa, entre outras razões, a compensar a futura perda de receita que a empresa terá a partir de outubro, quando passa a vigorar o novo modelo de administração dos aeroportos de Guarulhos (SP), Viracopos (Campinas) e Brasília.
 
Os três terminais foram concedidos à iniciativa privada em fevereiro. Pelo novo modelo de concessão, a Infraero, que hoje tem 100% dos aeroportos, verá sua participação cair a 49%.
 
A futura perda de receita com a privatização também está sendo apontada pelo Palácio do Planalto como justificativa para a mudança de rumo na concessão de Galeão e Confins (MG). A presidente Dilma quer, agora, que ambos sejam alvos de Parcerias Público-Privadas (PPPs), com a Infraero majoritária.
Dessa forma, a estatal manteria o controle da gestão dos dois aeroportos (entre os principais do país) que apresentaram o maior crescimento de fluxo de passageiros em 2011 (31,9% em Confins e 21% no Galeão).
 
Infraero só investe 18%
 
Para especialistas, a futura perda de receita com os três aeroportos privatizados, no entanto, não justificaria a mudança de modelo de gestão a ser implementado no Galeão ou em Confins.
 
— O problema da Infraero não é ter mais dinheiro, é gastar bem o que ela já tem — diz Bruno Pereira, coordenador da PPP Brasil, que reúne especialistas em PPPs.
 
De janeiro a julho deste ano, a estatal executou apenas 18,4% de seu orçamento, segundo levantamento da ONG Contas Abertas. Foram R$ 369,9 milhões de um total previsto para o ano de R$ 2 bilhões. Desde o ano 2000, a média de execução é de 51%.
 
Ferrenho defensor da privatização do Galeão, o governador Sérgio Cabral mudou de discurso nesta quinta-feira e disse aprovar a decisão de Dilma de optar pelas PPPs porque ela irá “encurtar caminhos, trazendo uma operadora para ser parceira da Infraero.”
 
— A presidente Dilma havia me colocado esta alternativa que na verdade é a mesma coisa: a gestão compartilhada. Ela vai trazer uma grande operadora privada do sistema de aeroportos que será parceira na gestão da Infraero. Isso é música para os nossos ouvidos, porque você pode ter um modelo em que você tenha a empreiteira com a operadora, que é o modelo de Guarulhos, Campinas e Brasília. Ou você pode ter um modelo que uma empresa pública pode chamar um parceiro privado para gerir com ela o aeroporto.
 
Para Cabral, o importante é que a gestão do Galeão precisa passar por uma modernização.
 
— A presidenta encontrou uma solução mais fácil e inteligente e que vai dar a agilidade que nós precisamos.
 
Mudar modelo é prejudicial
 
Na opinião do consultor e ex-assessor da Superintendência Regional do Rio na Infraero José Wilson Massa, as PPPs tendem a afastar o investidor privado, pois neste modelo haveria uma maior fiscalização do governo sobre a administração aeroportuária. Já para Elton Fernandes, da UFRJ, o problema não é qual o modelo adotado e, sim, a mudança de rumo:
 
— Desistir das concessões no meio do caminho cria dificuldades para regulamentar o setor, que vai conviver com dois modelos de gestão. Parece que não há planejamento.
 
O governo admite que a parceria entre a Infraero e um grande gestor aeroportuário estrangeiro no Galeão e em Confins, em substituição à concessão, somente decola se aparecerem interessados. Porém, segundo fontes, a estatal já detectou potenciais candidatos durante o processo de privatização de Guarulhos, Brasília e Viracopos. Várias empresas estão sendo sondadas sobre os outros dois aeroportos e a intenção do governo é apresentar uma proposta formal, assim que concluir o modelo de parceria.
 
No Galeão, o movimento de passageiros passou de 12,3 milhões em 2010 para 14,9 milhões ano passado, abaixo da capacidade de 17 milhões.