Sindicato dos Aeroviários no Estado de São Paulo
Segunda, 30 de Setembro de 2024

Uma rua natalina

22/12/2014

Nada de telhados cheios de luzes piscando nem enfeites extravagantes nos jardins. Na rua Natalino de Paula e Silva, formada por apenas um quarteirão, a decoração natalina é discreta. O clima de Natal, porém, não é prejudicado. Está presente nas guirlandas penduradas em portas, no tímido pisca-pisca em uma varanda, nos enfeites na sacada de um apartamento e no presépio montado em uma sala de visitas. 

Para lembrar o nascimento de Jesus, Anaíde Muniz Fernandes, 63 anos, faz questão de montar um presépio todo ano. Também instala pisca-pisca na varanda. "Se não enfeitar, nem parece que é Natal. Traz alegria." Católica, ela ajuda o Lar São Vicente de Paulo, de Rio Preto, a distribuir cestas a famílias carentes. O trabalho aumenta no fim de ano. Levamos comida, doces, roupas e brinquedos para crianças que precisam." 

Não tem o que reclamar da rua. Adora a vizinhança e ficou surpresa com a rápida adaptação e as amizades criadas. "Diziam que em Rio Preto, por ser grande, seria difícil fazer amizades. Estou há um ano e sete meses por aqui e conheço mais meus vizinhos do que conhecia em Jales, onde morei na mesma casa por 36 anos." A rua é tranquila. Tranquilidade que é muito bem aproveitada pelo fotógrafo Marcelo Oliveira, 30 anos. Com o fim de ano, o número agendado de casamentos e formaturas é muito grande. 

Muitos terminam tarde da noite. A calmaria ajuda a descansar. Está há seis meses na rua, e a diferença para o antigo endereço é gigante. "Morava no Centro. Por lá, tem barulho durante 24 horas." O trabalho com a fotografia está perdendo espaço pouco a pouco. Não por cansaço ou falta de retorno financeiro. É que Marcelo quer - e está conseguindo - realizar o sonho de infância: tornar-se piloto de avião. Há um ano, já está colocando o desejo em prática. 

Ele espera completar 500 horas de voo para poder pleitear vaga em companhias aéreas comerciais. Até o momento tem 280. Enquanto isso, fotografa eventos e faz voos como piloto free lancer. "Quando criança, ia ao aeroporto e ficava babando pelos aviões. Agora posso estar dentro deles." Como dá valor aos sonhos infantis, não deixa de enfeitar a casa no período de Natal para agradar o filho, Ítalo, 5 anos. Mesmo que a decoração seja bem simples, como a desse ano. Colocou pisca-pisca e bolas coloridas na sacada. E ela se destaca no prédio, já que é a única enfeitada.

Enfeites são a especialidade de Elaine Fagundes de Oliveira Fiorani, 40 anos. Além de empresária, é artesã. Dedica boa parte do tempo livre à decoupage. Pinta em caixas, vidros e principalmente gesso. "Começo às 18 horas e só paro quando o cansaço chega. Às vezes vai até de madrugada." Depois de um período sem atividades artesanais, em outubro ela pintou a imagem de Nossa Senhora das Graças para presentear uma amiga. Postou a foto da obra pronta no Facebook. 

Foi o suficiente para chover pedidos. Já fez Santa Apolônia, Santo Expedito, Santa Luzia, Nossa Senhora Aparecida e diversos outros. Para o Natal, produziu um presépio com Maria, José, Menino Jesus e os três reis magos. "Já fiz dois e tenho outros dois encomendados. Dificilmente vou conseguir entregar antes do Natal." Se pudesse pedir algo de presente, seria conseguir se dedicar exclusivamente ao artesanato. "É meu sonho."

Coincidência

O Natal está presente também em pequena coincidência. Na rua pequenina, há uma marcenaria. Profissão bem próxima a de José, pai de criação de Jesus Cristo, que era carpinteiro. E o nome do proprietário não poderia ser outro: José. Na última semana, porém, ele estava viajando a trabalho.

Nome da rua é mistério

A rua não se chama Natalino por causa do Natal. É Natalino de Paula e Silva, homenagem a alguém. Mas quem? Moradores não sabem. Historiadores também não. Nem mesmo o autor da lei que deu nome à rua, Alcides Zanirato, sabe informar. "Nossa, já faz muito tempo, não é?! São 17 anos já." O projeto de lei que deu o nome à rua é de 1997. Mas há uma justificativa, segundo o ex-vereador, para ele não saber quem foi Natalino de Paula e Silva. 

"Antigamente, a denominação de ruas era feita exclusivamente pelo prefeito. A Promotoria Pública questionou isso e foi preciso transformar os decretos em projetos de lei. Foram mais ou menos 400 denominações que não eram de minha autoria e, sim, para cumprir uma exigência legal." A rua fica no residencial Lauriano Tebar, entre as ruas João Dela Coleta e Elza Tuma Chaddad. Está a um quarteirão da avenida Ernani Pires Domingues. É formada por apenas um quarteirão. Conta com 15 casas e um prédio de apartamentos, com três andares. 

Além da marcenaria, existem duas confecções. Uma delas é comandada por Fabrício Rodrigo Sposito, 38 anos. Está há dois anos na rua e usa o prédio como escritório de distribuição da sua camisaria. Trabalham em quatro no local. "A rua é calma e a vizinhança é bacana. O acesso a ela também é muito bom, o que me ajuda, já que tenho de sair muito durante o dia para distribuir os produtos."