Sindicato dos Aeroviários no Estado de São Paulo
Terça, 24 de dezembro de 2024

Aéreas brasileiras cada vez menos internacionais

02/08/2012

 

As companhias aéreas brasileiras estão cada vez menos internacionais, como o mostram os dados do primeiro semestre divulgados ontem pela autoridade aeronáutica (ANAC), que indicam uma redução de capacidade em voos internacionais de 1,9%, com a qual a parcela que dedicam às ligações internacionais ficou reduzida a 21,3%, face a 23% há um ano, 24,3% há dois anos e 27,6% há três anos.
 
Os dados da ANAC indicam que apenas quatro companhias brasileiras tiveram operações internacionais no primeiro semestre, entre as quais se destaca a TAM, que entretanto foi integrada na LATAM liderada pela chilena LAN, com 86,9% da capacidade total das companhias brasileiras em ligações internacionais e 36,7% da sua capacidade total. 
 
A TAM, além de dominar largamente o mercado de voos internacionais, foi a única a aumentar a capacidade deste segmento no primeiro semestre, em 1,3%, enquanto a GOL, segunda maior, com 12,6% do mercado em capacidade, fez uma redução de 13,8%, e a Avianca, terceira maior, com 0,5% da capacidade, baixou 68,2%. 
 
Esta evolução da actividade do sector aéreo brasileiro reflecte, por um lado, a sua dificuldade em competir com a concorrência internacional, designadamente norte-americana e europeia, onde se inclui a TAP, que continua a aumentar ligações e a ter mais tráfego, mas também a atractividade do mercado de voos domésticos, onde os ‘pesos pesados’ TAM e GOL têm cada vez mais dificuldade em enfrentar a agressividade dos novos players, como a Azul. 
 
Nos primeiros seis meses deste ano, as companhias aéreas brasileiras tiveram um crescimento médio do tráfego de passageiros (medido em RPK = passageiros x quilómetros percorridos) em voos domésticos e internacionais de 5,8%, mas como o aumento em voos internacionais a ser de apenas 1,2%, enquanto em domésticos foi de 7,3%.
 
Esta tendência de crescimento mais forte do transporte aéreo de passageiros em ligações domésticas também transparece dos dados da Infraero, empresa que gere os aeroportos brasileiros, mas não de forma tão pronunciada quando transparece dos dados da ANAC, designadamente porque em voos internacionais também estão incluídas empresas estrangeiras. 
 
Segundo os dados da Infraero, no primeiro semestre os aeroportos brasileiros tiveram um aumento em 7,9% do total de passageiros embarcados e desembarcados, incluindo tanto empresas brasileiras como estrangeiras, para 93 milhões, com +8,1% em voos domésticos, para 83,6 milhões, e +6,5 em internacionais, para 9,36 milhões. 
 
Os voos internacionais representaram, assim, 10,1% do total de passageiros nos aeroportos brasileiros (a percentagem é menor que em RPK porque neste indicador é contada a distância percorrida, que normalmente é maior em voos internacionais), apenas menos 0,1 pontos que há um ano.
 
Porém, esse é apenas um dos lados da equação, pois enquanto em voos internacionais o aumento de tráfego reportado pela ANAC em relação às companhias brasileiras ocorreu face a uma redução de capacidade (em ASK = lugares x quilómetros percorridos) em 1,9%, o que levou a um aumento da taxa de ocupação em 2,4 pontos, para 80,3%, em voos domésticos foi o inverso, pois o aumento de capacidade, em 8,5%, foi superior ao incremento do tráfego e a taxa de ocupação teve uma queda de 0,8 pontos, para 70%. 
 
Por outro lado, os dados da ANAC mostram que o crescimento mais forte do tráfego doméstico no Brasil está a ser impulsionado principalmente pelas chamadas “pequenas” companhias, por comparação com a TAM e a GOL, especialmente pela Azul, que começou a operar em 15 de Dezembro de 2008 e que já conquistou mais de 10% do mercado. 
 
No primeiro semestre deste ano, de acordo com os dados da ANAC, enquanto a TAM, líder de mercado, perdeu três pontos de quota de mercado (em tráfego transportado) e a GOL, vice-líder, perdeu 3,4 pontos, a Azul somou mais 2,3 pontos e passou a marca dos 10% do mercado, situando-se em 10,1% (10,2% no mês de Junho, com +1,6 pontos que há um ano). 
 
Mas nem essa será a quota de mercado exacta da Azul, pois não leva em conta ainda a anunciada fusão com a Trip (clique para ler: Azul “integra” Trip, que quase “casou” com a TAM. Das ‘médias’, só Avianca se mantém “solteira”), nem a companhia criada por David Neeleman, um dos fundadores da norte-americana JetBlue, é a que mais está a ganhar quota de mercado.
 
De acordo com os dados da ANAC, a Avianca, do empresário Germán Efromovich, também maior accionista do grupo Avianca-Taca que recentemente entrou para a Star Alliance e que já admitiu interesse em analisar a TAP, é, no primeiro semestre, a companhia que mais cresce no segmento de voos domésticos no Brasil, com um aumento do tráfego em 101,8%, e a que mais ganha quota de mercado, tendo uma subida de 2,35 pontos, para 5%.
 
Azul e Trip, por sua vez, se as suas operações já fossem consideradas em conjunto, teriam uma quota de mercado de 11,1%, mais 3,1 pontos do que tinham somadas há um ano. 
 
Nesta lógica, também a GOL é mais do que os 34,1% do tráfego doméstico transportado no primeiro semestre, pois somando a Webjet, cuja aquisição ao empresário Guilherme Paulus, antigo maior accionista da CVC, aguarda aprovação pela autoridade da concorrência, chega a 40% (-2,9 pontos que há um ano), acima dos 39,7% da líder TAM, cujos dados incluem, desde Dezembro de 2010, a TAM e a Pantanal.