Sindicato dos Aeroviários no Estado de São Paulo
Segunda, 30 de Setembro de 2024

Grandes empresas aéreas da Europa têm mais turbulência pela frente

30/10/2014

Para as grandes companhias aéreas da Europa, o mundo está cada vez mais dividido entre as que já têm um modelo de negócios sustentável e as que estão lutando para ter um.

A situação das empresas do segundo grupo pode piorar ainda mais antes que comece a melhorar, agora que os indicadores econômicos dos países da zona do euro estão em declínio. Isso aumenta os desafios de aéreas como a Air France-KLM SA, a maior da região em tráfego, e sua concorrente Deutsche Lufthansa AG .

“A fraqueza da zona do euro é um problema fundamental que pode muito bem superar os eventuais benefícios do combustível mais barato”, diz Gerald Khoo, analista da Liberum.

As duas empresas foram atingidas por conflitos trabalhistas complicados, em que pilotos se opuseram a iniciativas para corrigir a situação de rotas deficitárias de curta distância. No início do mês, a Air France-KLM alertou que uma greve de 14 dias reduziu seu lucro anual em 500 milhões de euros (US$ 637,5 milhões). Agora que o problema foi resolvido, a questão principal para a empresa ao divulgar seus resultados do terceiro trimestre, hoje, é se a fraqueza da economia se disseminou ainda mais pelo mercado, diz Khoo.

Na Lufthansa, o prejuízo causado por repetidas greves de pilotos nas últimas semanas está levando analistas a prever que a companhia vai cortar sua previsão de lucro pela segunda vez este ano quando divulgar os resultados do terceiro trimestre, amanhã. O impacto das greves sobre as vendas provavelmente vai anular o ganho com a queda nos preços do combustível e o aumento do tráfego em setembro.

“Agora que a atividade industrial vai entrando no quarto trimestre, acreditamos que o risco para as metas anuais esteja aumentando”, diz Oliver Sleath, analista do Barclays.

Em junho, a Lufthansa rebaixou sua previsão de lucro operacional de 1 bilhão de euros para este ano, culpando o lento crescimento das vendas e as agitações trabalhistas por prejudicarem seu plano Score de corte de custos. Desde então, os pilotos já interromperam as operações várias vezes. Eles se opõem a uma proposta da Lufthansa de aumentar a idade para a aposentadoria antecipada e aos planos de transferir algumas rotas para sua divisão de baixo custo.

A empresa alemã anunciou, em julho, um plano para transferir rotas de curta distância para sua divisão de voos mais baratos e, ao mesmo tempo, passar algumas rotas de longa distância para um modelo de negócios de custo mais baixo. Isso seria feito, inclusive, através de uma parceria com a empresa turca Turkish Airlines. A Lufthansa também quer usar alguns jatos de longa distância A340-300, da  Airbus Grup NV, em mais rotas para destinos de lazer.

A Lufthansa afirmou que o sindicato UFO, que representa a tripulação de cabine, e as divisões de manutenção e alimentação da empresa concordaram com algumas reduções de custo, mas que não houve “nenhuma disposição” por parte dos pilotos para encontrar uma solução.

Jörg Handwerg, porta-voz do sindicato dos pilotos, o Vereinigung Cockpit, diz que é relativamente fácil para os outros sindicatos aceitar cortes que reduzem vagas na equipe de alimentação e na tripulação de cabine. “Mas isso não funciona para nós — não podemos simplesmente tirar os pilotos da cabine”, diz ele. “Isso tem a ver diretamente com a remuneração, e as exigências são irrealistas.”

Os membros da tripulação não são os únicos a questionar o plano da Lufthansa. “Na sua determinação de cortar custos e manter sua participação no mercado de rotas ponto a ponto, acreditamos que a Lufthansa vai acabar com um conjunto complexo de marcas desconhecidas que simplesmente vão prejudicar seu desempenho financeiro”, diz Sleath.

A Air France-KLM e a Lufthansa só precisam olhar para a controladora da British Airways a International Consolidated Airlines Group AS, para constatar que períodos difíceis de reestruturação podem gerar resultados. O diretor-presidente da IAG, Willie Walsh, promoveu uma reestruturação da deficitária divisão Iberia que incluiu o corte de mais de 3.000 postos de trabalho, a que os sindicatos se opunham.

A empresa pode apresentar uma melhora na sua previsão de lucro anual quando divulgar seus resultados do terceiro trimestre, na sexta-feira, diz James Hollins, analista da Nomura. Rendimentos altos e uma pequena ajuda do combustível mais barato podem elevar a projeção para pelo menos 1,27 bilhão de euros para o lucro antes de juros e impostos em 2014. Os cortes de custos na Iberia, a melhora das economias do Reino Unido e Espanha e a baixa no preço dos combustíveis podem acabar levando a um aumento nas estimativas do lucro também em 2015.

As dificuldades enfrentadas por algumas grandes operadoras europeias têm sido uma benção para suas concorrentes de baixo custo. Neste mês, a EasyJet PLC elevou sua previsão de lucros antes de impostos no ano fiscal encerrado em setembro, ajudada em parte pelo tráfego extra que obteve enquanto a Air France estava em greve. Na segunda-feira, a rival Ryanair, maior companhia aérea de descontos da Europa, também deve divulgar resultados robustos para o primeiro semestre. As greves nas concorrentes e aviões surpreendentemente lotados nos últimos meses devem ajudar a empresa a “superar facilmente” as previsões, diz Sleath, acrescentando: “Esperamos que a empresa apresente a maior alta de lucros no setor durante o inverno [no hemisfério norte].”