Sindicato dos Aeroviários no Estado de São Paulo
Domingo, 29 de Setembro de 2024

Inferno aéreo

30/06/2014

Voar no Brasil, durante a Copa do Mundo, tornou-se um inferno de atrasos e multas astronômicas. A razão é simples: a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) pensou que o tráfego aéreo ia ser muito mais intenso do que realmente ocorreu e publicou duas resoluções que mudam a alocação dos slots. No linguajar aéreo, slot é a autorização de pousos e decolagens. De acordo com as resoluções, publicadas uma semana antes do começo da Copa, as multas por não usar um slot previamente alocado, usar um não alocado ou por usar um em desacordo com as suas características vão de R$ 7 mil a R$ 63 mil, para pessoas físicas, e R$ 12 mil a R$ 90 mil, para os donos das aeronaves. As duas resoluções ainda mudaram a prioridade de pousos e decolagens. Em primeiro lugar, aviões de delegações esportivas. Depois, aviões de companhias aéreas regulares já existentes, novas, irregulares. Em penúltimo lugar, vôos governamentais e, em último, táxis aéreos, aviação geral e outras operações privadas. Voos de emergência e salvamento, de transporte de pacientes ou órgãos para transplantes, militares ou carregando chefes de Estado ficam isentos.

Liberdade de voar restrita

Os mais afetados nas novas regras de slot são as companhias de taxi aéreo. Como estão na base das prioridades, elas têm muita dificuldade de conseguir voos. “Esses megaeventos são quando o pessoal ganha dinheiro. Se o turista quiser pegar um táxi aéreo para Foz do Iguaçu ou Belém, ele não consegue. Ficou muito difícil conseguir um voo, e a liberdade de voar ficou muito restrita”, afirmou o presidente da Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves (APPA), George Sucupira. De acordo com ele, a situação chegou a um ponto em que há aeroportos com o sistema de slot sem uso. E isso foi ruim para o Brasil. “Um Boeing cheio de torcedores só traz problemas. O torcedor compra uma bandeirinha, fica no hotel e vai embora. Já os jatos de executivos que poderiam investir no País não conseguem pousar. Só pousam os dos executivos de empresas patrocinadoras”, disse.
 
Voar com pane
 
O problema é que o sistema de slots só é utilizado em aeroportos onde o movimento é muito intenso. Congonhas, em São Paulo, está no limite da capacidade, então usa o sistema. A Anac criou novas regras de distribuição de slot em 2008. Essas regras foram mudadas uma semana antes da Copa. Com isso, situações bizarras aparecem. Um piloto de uma companhia aérea teve que ficar sobrevoando o aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, por uma hora e quarenta minutos, porque ele perdeu o slot para o avião que carregava a delegação holandesa. Outro piloto, que partiu de Jundiaí (SP), sofreu uma pane, mas terminou o voo e pousou em Congonhas para não retornar a Jundiaí e pagar a multa. “Fomos autorizados a retornar com slot de oportunidade especial para Jundiaí, onde o aeroporto estava às moscas. Nesse meio tempo, a pane que era intermitente não estava mais presente, decidimos prosseguir para Congonhas com receio da punição por não cumprir o slot”, disse o piloto, que preferiu permanecer anônimo.