Sindicato dos Aeroviários no Estado de São Paulo
Domingo, 29 de Setembro de 2024

Tap obrigada a alugar aviões de outras companhias aéreas

24/06/2014

Passavam sete horas sobre a hora prevista para a descolagem, quando, no último domingo, o voo TP 104 deixou o aeroporto de Newark, Estados Unidos, em direcção a Lisboa. A ligação realizou-se num avião que ostentava as cores e o emblema da espanhola Iberia, o que agravou o descontentamento dos passageiros. O fretamento do voo Nova Iorque - Lisboa foi apenas um de seis que na última semana a TAP realizou com aviões de outras companhias aéreas, confirmou ao Diário Económico fonte oficial da empresa.

"No Verão é normal as companhias europeias recorrerem a fretamentos para resolver situações pontuais, mas a realização do campeonato do mundo está a provocar uma procura adicional de aviões para fretamento", explica. Aqui acresce o incidente no aeroporto de Belém, a 8 de Junho, que obrigou à imobilização de um avião da TAP por mais de uma semana. O avião regressou segunda-feira à operação, mas depois disso "seguiu-se um ‘flight return' [regresso à origem] de um voo de Luanda no Domingo à noite, quando o avião sobrevoava o sul do País, e outro na segunda-feira com um voo para Brasília, quando o avião já sobrevoava Cabo Verde."

A TAP explica que "estes factos conjugados obrigaram ao fretamento pontual de aviões para completar a operação".

Além disso, apurou o Diário Económico, o voo TP 1002 que na terça-feira de manhã deveria ter ligado o Porto e Madrid, regressou ao Aeroporto Sá Carneiro, 20 minutos depois de ter descolado, por "um problema hidráulico", como o explicado aos passageiros.

Pilotos e tripulantes contestam que esta seja uma situação pontual. Garantem que desde Maio que há voos regulares realizados com aviões de outras companhias e que os próximos meses podem representar o agravamento desta situação. "A TAP, numa perspectiva de crescimento, querendo aproveitar as oportunidades de mercado para aumentar o valor de mercado, porque é isso que está em causa, está a dar passos maiores que as pernas, com o efeito que se está a assistir: a degradação da qualidade de serviço da TAP", diz Jaime Prieto, presidente do Sindicatos dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC), lembrando que os passageiros "estão a comprar bilhetes TAP, para voar em voos TAP, com tripulações TAP e acabam por ter um serviço inferior".

TAP aumenta oferta em 8%

A TAP avançou este Verão com um reforço da oferta, com 11 novos destinos. As ligações a Belém e Manaus arrancaram em Junho e a 1 de Julho avançam as ligações a Bogotá, Panamá, Hanôver, Talin, Gotemburgo, Belgrado, São Petersburgo, Oviedo e Nantes.

Para fazer face ao crescimento, a companhia comprou seis novos aviões. O primeiro - um A330 que estava ao serviço da TAM - chegou em Maio, mas só deverá entrar em operação em Julho, seguindo-se outro A330, dois A320 e dois A319. Fonte sindical diz que a entrega dos aviões derrapou e que a situação pode agravar-se. "Na primeira semana de Julho, a operação de um dos destinos do Nordeste [no Brasil] está toda atribuída à Hi Fly", alerta. 
Fonte oficial da TAP afirma que "só a partir de Julho é que podemos dizer que estão atrasados". "São aviões que não eram novos e que têm de se adaptar aos nossos padrões e há alguns atrasos, que não nos são imputáveis, e que estamos a tentar recuperar".

"Com o aumento de voos, aumento de frequências, mais voos por causa do Mundial há dificuldades na gestão do dia-a-dia e começa a ser problemático", afirma Rui Luís, presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), que diz não existirem assistentes de bordo suficientes para a operação. "Foram formando tripulantes, embora não cheguem para as necessidades, nem a TAP está com capacidade de instrução para fazer tantos, está a formá-los à noite e ao fim-de-semana".

Há quatro anos que a falta de tripulantes e o cancelamento de voos é um problema. Há dois anos, a TAP chegou a acordo com o SNPVAC para baixar os elementos de cada tripulação, solução que foi insuficiente face ao aumento da oferta da empresa.

"Os tripulantes estão altamente desconfortáveis com esta situação. Há quatro anos que fazemos os Verões, e não só, nos limites", diz Rui Luís após uma assembleia geral em que os associados do SNPVAC decidiram não trabalhar além das horas definidas no Acordo de Empresa. "Percebo o problema dos colegas de escala, que ligam a quem está de folga e de fim-de-semana, mas os tripulantes deixaram de ter vida própria."

Decisão semelhante foi tomada pelo SPAC esta semana em assembleia-geral. "Os pilotos cumprem tudo o que lhes for legalmente imposto pelo acordo. Para tudo o que exceda isso não estão disponíveis", garante Jaime Prieto. "Os pilotos têm sido responsáveis por aguentar uma operação com efectivos abaixo do necessário, não dão mais".