Sindicato dos Aeroviários no Estado de São Paulo
Domingo, 29 de Setembro de 2024

Quem quer comprar a companhia aérea portuguesa ?

05/06/2014

Gérman Efromovich foi o único a avançar com uma proposta para a compra da TAP em 2012, no final chumbada pelo Governo. Willie Walsh andou por Lisboa, alguns meses antes, para apresentar a bondade da sua própria proposta, mas recuou quando o Executivo recusou retirar a TAP Manutenção & Engenharia Brasil do perímetro da privatização. No início desta semana cruzaram-se em Doha, para a 70.ª assembleia-geral da Associação Internacional do Transporte Aéreo (IATA, na sigla inglesa), que teve como anfitrião Akbar Al Baker, presidente da Qatar Airways, provavelmente o mais discreto dos gestores que há dois anos chegaram a admitir olhar para o dossier da privatização da TAP. 

Num dos painéis da tarde de segunda-feira, o presidente do International Airlines Group (IAG) estava já em mangas de camisa, apesar das baixas temperaturas do salão do Ritz-Carlton, em Doha, quando responde que, "de momento, não [está] a ver nada" que justifique avançar para um processo de consolidação. O microfone fica então aberto para Akbar Al Baker. O presidente da Qatar Airways, habitualmente considerada uma das melhores companhias aéreas do mundo, responde que a investir "só em companhias rentáveis, não em companhias falhadas", realçando que "não estou falar de ninguém em particular".

Mais tarde, terminada a conferência, o presidente da Qatar Airways acabaria por reconhecer que poderia olhar para a TAP, desde que verificasse "que as condições de mercado mudaram desde a última vez" que analisou o dossier. Até porque, frisa, reconhece "muito valor à TAP". "Desde que gerida de forma apropriada e operada de forma eficiente, tem um grande valor porque tem uma rede enorme na América do Sul", realça Akbar Al Baker.

A rede da TAP, principalmente no Brasil, até pode ser o que menos interessa a Gérman Efromovich, dono do grupo Synergy e com uma forte presença na América Latina por via da Avianca Taca. O que interessaria a Efromovich é a capilaridade da rede da companhia aérea portuguesa na Europa. No entanto, dois anos depois de ver recusada a sua proposta, voltaria a empresário a tentar? "Não se descarta, se o Governo lançar a privatização", esclarece, mas insiste que a privatização da TAP "não é uma prioridade".

"Vinha sendo anunciado já no início deste ano, depois Março e nada ocorreu. Se isso acontecer obviamente que vamos olhar, mas não com o mesmo interesse que tivemos no passado", adianta nos corredores do Ritz-Carlton, antes de entrar para mais um painel de debate. E enquanto o Executivo não relança oficialmente o processo, Efromovich garante que o plano para entrar na Europa, nomeadamente criando uma companhia de raiz, possibilidade que anunciou há um ano, vai ter de esperar. 

"O plano está desenhado, mas não vai ocorrer esse ano, porque queremos ver o que vai acontecer. Diria que 2014 é um ano de observação, para ver o rumo das coisas."

E se Gérman Efromovich deixa a porta aberta à privatização, já Willie Walsh é bastante mais assertivo. "Com a TAP? Não!" "Como IAG seremos [parte do movimento de consolidação], estamos estruturados para isso, mas a TAP não é uma das companhias", explica o homem que há quatro anos liderou o processo de fusão entre a British Airways e a Iberia. Mas enquanto vai elogiando o trabalho feito pelo presidente da companhia aérea, repete pela terceira vez que a TAP não está na rota do grupo. "Admiro o Fernando Pinto, é um grande CEO. É um dos líderes da indústria, fez um trabalho fantástico lá, mas é claro que a TAP não é uma companhia que interesse ao IAG" , remata o gestor.