Sindicato dos Aeroviários no Estado de São Paulo
Sexta, 27 de Setembro de 2024

Foi assim que aconteceu

27/02/2014

Faz de conta que estamos uns meses avançados no ano. Na Madeira, há-de haver quem se vanglorie pelo enorme feito na negociação do subsídio de mobilidade, que é o apoio que o Estado dá aos madeirenses para as suas deslocações ao continente.Provavelmente o apoio vai-se manter intacto, 30 euros por deslocação. Sem mexida alguma, ou então baixa menos do que aquilo que foi sugerido pela Inspecção-Geral de Finanças (IGF). Em vez de descer para 21, desce para 25, por exemplo. Aplausos, aplausos para os grandes negociadores.

Entretanto, vai-se voltando mais atrás e a ilha vai vregressando àquele espaço fechado de outrora, ninho do pior da insularidade. De horizontes mais fechados, que a Internet não resolve tudo. Mas aplausos, aplausos aos grandes negociadores de São Bento, que conseguiram transformar em má uma proposta péssima. Felizes dos madeirenses por terem tão nobres interlocutores junto do poder central.

Tem sido assim quase sempre nesta legislatura, onde o primeiro-ministro não esconde o asco que lhe provoca não diria os madeirenses, mas quem os governa. Há que tirar o chapéu a Pedro Passos Coelho, porque aprendeu a jogar o jogo de João Jardim. Sempre se ouviu que a técnica do líder madeirense passava por pedir muito para conseguir o que realmente queria. Lisboa joga agora igual, com trunfos em tudo semelhantes: Apresenta o pior cenário, para recuar depois para o pretendido, dando a sensação que houve um diálogo, avanços e recuos pelo meio. Aplausos aos geniais, que têm impedido males maiores, esquecendo, porém, que a proposta de partida era aumentar o subsídio a estudantes e doentes.

Infelizmente, o ricochete deste jogo acaba sempre a fazer mossa nos mesmos. Aqueles seres exóticos, habitualmente conhecidos por povo, que passam a eleitores em dias de campanha, que terão de dizer aos seus filhos que não podem ir estudar para o continente, que não, não podem ter um curso superior. Ou os que indo, não poderão visitar as suas famílias nem sequer no Natal, porque o lucro das companhias aéreas não se compadece com esta pieguice que é a família. O Estado também não.

Jardim sempre se orgulhou de ter passado os madeirenses de povo de segunda a povo superior (alguém consegue ler isto sem dar uma gargalhada). São pequenas coisas como estas que orgulhosamente nos deixarão no ponto de partida, no meio das nossas acessibilidades para lugar nenhum, para andar em círculo. Parabéns, grande negociador da Quinta Vigia. Não lamente, afinal está apenas a receber um cheirinho da solidariedade que tem mostrado com os autarcas de outras cores políticas, imagine-se, do seu próprio partido. Infelizmente, pagam sempre os mesmos e não, não são aqueles 25% responsáveis por mais de metade das viagens. São os outros, sabe. Não, não sabe, nem quer saber.